top of page
Buscar

A Ascensão das Casas de Ballroom em Manaus: Casa Casco de Jabutt

  • Foto do escritor: Manauarou
    Manauarou
  • 13 de nov. de 2024
  • 4 min de leitura

Atualizado: 28 de nov. de 2024

Nesta matéria, explore Casas de Ballroom que estão transformando a cena cultural de Manaus. Cada casa carrega uma trajetória única, onde histórias e expressões artísticas se entrelaçam para valorizar e dar visibilidade às identidades regionais.

"A Ascensão das Casas de Ballroom em Manaus" apresenta um olhar detalhado sobre algumas das principais casas da cena ballroom manauara. Explorando as raízes dessas casas, a matéria revela como elas surgiram e o impacto cultural que têm exercido na cidade. Abordamos o contexto de cada casa desde o seu início até os dias atuais, destacando as histórias e o papel fundamental que desempenham na valorização da diversidade e no fortalecimento da comunidade LGBTQ+ em Manaus.


KIKI HOUSE OF JABUTT

Casa Casco de Jabutt durante o baile "Furacão 2000" da Casa Konda (2024).

Foto: Dighett0


A Casa Casco de Jabutt é um coletivo indígena e periférico que atua na cena ballroom de Manaus, promovendo representatividade e resistência. Fundada em setembro de 2023 pela Mother Harmonya Dórémi Jabutt, a casa surgiu com o objetivo de valorizar e enaltecer as culturas dos povos originários, principalmente indígenas e negros, por meio de uma abordagem artística e comunitária. Inspirada no símbolo do “casco” de um jabuti, a casa busca refletir resiliência e proteção aos seus membros, muitos dos quais se identificam como indígenas, trans e negros.


História e Fundamento


A ideia da Casa Casco de Jabutt nasceu com a proposta de utilizar a ballroom como plataforma para ampliar o espaço cultural indígena, negro e ribeirinho. Desde o evento inaugural, o “Baile dos Insetos,” realizado na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), a casa ganhou destaque e trouxe à cena temas importantes e invisibilizados. O nome "Jabutt" representa o caminho de resistência do jabuti, simbolizando a jornada devagar e sempre. O “casco” reflete a proteção e o apoio da comunidade, especialmente para os membros indígenas e negros em situação de vulnerabilidade.

Conquistas e Premiações


Em seu primeiro ano, a Casa Jabutt já acumulou aproximadamente 27 prêmios (“prizes”) em categorias de vogue, reflexo da força e do talento do coletivo. Essas premiações destacam o trabalho coletivo e individual dos membros da casa, além de marcar presença significativa na cena ballroom de Manaus. Uma das maiores realizações da casa foi o “Baile dos Espíritos Ancestrais,” realizado em parceria com o coletivo indígena Miriã Mahsã. Este foi o primeiro ball com temática indígena na região Norte e contou com a presença de figuras renomadas como Uýra Sodoma e o estilista Sioduhi. Esse evento trouxe visibilidade nacional e foi coberto por reportagens como a da Amazônia Real, evidenciando a importância da diversidade na ballroom.


Eventos Temáticos e Engajamento Sociopolítico


A Casa Casco de Jabutt é conhecida por realizar balls com temas que trazem importantes reflexões sociais e culturais. Entre os eventos promovidos estão:


  • Baile dos Ursinhos Carinhosos: Um evento que celebra a diversidade nas relações afetivas, com uma roda de conversa sobre afetos e a descolonização das relações amorosas.

  • Ball dos Espíritos Ancestrais: Focado nas identidades indígenas e periféricas, o ball promoveu uma série de discussões sobre os direitos e a representatividade de diferentes etnias.

  • Ball do Purgatório: Explorou o conceito de “pecado” como ferramenta de opressão e perseguição a corpos dissidentes desde a colonização, incentivando uma releitura crítica do julgamento social e religioso.


Baile "Espiritos Ancestrais" (2023).

Via Harmonyadoremi

Baile dos "Insetos" (2023).

Via jauribs_

Jurados, baile dos "Ursinhos Carinhosos".

Via ganj4grl

Baile do "Purgatório"(2024).

Foto: Felipe Amorim


Identidade e Diversidade na Cena Ballroom


A Casa Jabutt se destaca por ser uma casa majoritariamente indígena, abrigando membros de diversas etnias, como Sateré-mawé, Pankararu, Puri, Kanela, Kulina, e Kambeba. Com sua presença, a casa reforça a ocupação indígena na ballroom, demonstrando que o espaço de cultura e expressão também é um território indígena. A filosofia da casa substitui os ícones da cultura ballroom, como coroas e joias, por elementos culturais amazônicos, como cocares, grafismos, penas e sementes. Esse símbolo de apropriação cultural da ballroom fortalece a identidade da casa e oferece um espaço seguro e valorizado para os membros manifestarem sua herança e ancestralidade.


Visibilidade e Impacto Social


A Casa Casco de Jabutt não apenas representa a comunidade na ballroom, mas também leva suas pautas para fora desse espaço. Integrantes como Álex, uma figura de destaque por sua atuação política e primeira pessoa no Amazonas a registrar oficialmente o gênero não-binário, expandem o impacto da casa para o ativismo político e social. A casa atraiu a atenção de figuras importantes da cultura LGBTQIA+ e do ativismo, como Rita Von Hunty e Érika Hilton. Esse reconhecimento reflete a importância e a visibilidade que a casa alcançou na luta pela inclusão e direitos das pessoas trans e indígenas.


Casa Casco de Jabutt durante o baile "Furacão 2000" da Casa Konda (2024).

Via Harmonyadoremi


A Casa Casco de Jabutt é um verdadeiro marco na ballroom manauara, reforçando a identidade amazônica e indígena e proporcionando visibilidade e proteção para seus membros. A casa segue com sua missão de educar, empoderar e celebrar a diversidade, mostrando que a ballroom é um espaço de resistência e luta, onde a tradição e a cultura originária do Norte têm um papel essencial e transformador.


Fonte: Casa Casco de Jabutt


Esta foi a primeira parte da "A Ascensão das Casas de Ballroom em Manaus", uma introdução às vozes e histórias que fortalecem essa cena vibrante e de importância cultural. Ao longo das próximas edições, vamos explorar mais casas, revelando novas histórias e suas contribuições ao cenário ballroom local. Agradecemos especialmente à Casa Casco de Jabutt, que compartilhou suas vivências e inspirações, enriquecendo nosso entendimento da resistência cultural e das expressões artísticas originárias da Amazônia.

 
 
 

Comentarios


bottom of page